segunda-feira, 26 de outubro de 2009

BASTARDOS

Bem, primeiramente perdoem minha ausência, tempos difíceis são respondidos com silêncio. Minha última pendência era publicar minha crítica sobre o novo longa de Quentin Tarantino, o que farei agora, mas percebi que o "bastardos" do título me perseguiu por um tempo antes de voltar a postar. Essa não pátria, não mãe, a ausência dessa base muda um pouco o caráter e as decisões das pessoas. Acho que fui um pouco bastardo nesses últimos dias. Certas coisas me levaram a crer nisso, e para piorar sou Tricolor carioca, é ... as coisas estão difíceis, mas a única forma que vejo em clarear as idéias é escrevendo. Espero que essa minha condição bastarda não venha me afetar tanto na minha escrita, nem na frequência dela, por enquanto, essa é praticamente minha primeira crítica "Bastarda":

BASTARDOS INGLÓRIOS

Quentin Tarantino está expandindo seu universo, mas a paixão pelo cinema continua sendo a espinha dorsal de sua obra. Tudo em Bastardos respira cinema, e por isso mesmo acho difícil que alguém que goste de cinema saia insatisfeito do cinema. Bastardos é a obra mais complicada para Tarantino permear de sua "lírica" Pop, por isso algumas cenas seguem diálogos que buscam chegar em um ponto e que não conseguem, mas nada que não passe de um pequeno cansaço. Dentro de sua pequena, porém avassaladora obra, Tarantino tem aqui sua melhor cena, a de abertura do filme, onde o coronel nazista Landa (Cristoph Waltz, sublime) eleva a tensão do espectador, é claramente a melhor cena de sua carreira e o ponto alto do filme, pena que seja logo de início. A segunda parte, o segundo capítulo, é igualmente genial, porém, na parte do humor, com que Brad Pitt e cia. ganham a simpatia dos espectadores de forma violenta e vingativa, vingança que é o tema frequente na obra de Tarantino, tendo em vista sua grande obra anterior a essa ...
... KILL BILL,

onde ele alcança o ápice de sua mistura de Pop, paixão ao cinema e vingança. A vingança de Tarantino é exatamente aquela que faz parte de um dos instintos humanos e que muitos tentam renegar e excluir daqueles instintos em que sentimos prazer em realizar, na obra de Tarantino, a vingança é extremamente prazerosa. Como cinema, Kill Bill ainda é sua obra mais bem sucedida visualmente, agora, sua obra mais completa continua sendo ...

... PULP FICTION,

é nele que Tarantino passa todas suas pretensões cinematográficas e ainda mais, cria uma fórmula que é absurdamente copiada até hoje, criando assim sua fórmula "Tarantinesca", Pulp Fiction é de longe sua obra-prima, título dado ao tal Bastardos pelo tenente Aldo Raine (Brad Pitt), na cena final, na foto que abre esse post. Não concordo nesse ponto com Tarantino, há muitas falhas em Bastardos, tantas quantos seus acertos, o que diferencia Bastardos é, em minha opinião, a ousadia de se aventurar em um filme de época e empregar seu estilo, tão ligado aos tempos atuais. Ele se sai muito bem para a missão, seu filme é uma homenagem a grandes filmes como "Dez Condenados" e uma bela homenagem. Há cenas em que evoca sua própria obra, como uma no bar em que é algo que lembra bastante seu longa de estreia,
CÃES DE ALUGUEL,

onde ele mostrou todo seu talento e se tornou a tal promessa que vingaria anos depois. O cinema se tornou mais empolgante com a obra de Tarantino, principalmente por criar esse vinculo de paixão com o cinema assim como o espectador. Em Bastardos essa fórmula é elevada, a mudança dos fatos históricos não afeta em nada a aceitação do público, ela faz parte desse poder em que o cinema tem de fazer sua própria história, tanto que o desenlace dos acontecimentos ocorre em um cinema de forma representativa, mas o que torna Bastardos esse "tudo isso" é ...
... CRISTOPH WALTZ,
seu Hans Landa é o vilão do ano, o trunfo do longa. Ele passa longe de apelar pro lado da maldade para se tornar vilão, na verdade ele prioriza a ele mesmo. Inteligente, eficiente em sua missão de caçar judeus e extremamente calculista, ele é o vilão perfeito e a interpretação de Waltz é perfeitamente pontuada. Essa é sem dúvida a maior "glória" do filme. Tarantino com Bastardos mostra que ainda está no caminho certo mesmo tendo voltado tantos anos para arquitetar a maior vingança que ficou pendente no mundo.
Espero voltar em breve, Essa semana tem a ressureição de Michael Jackson para sua "santa ceia" nos cinemas e tem MOLA no circo, até!

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Rapidinha sobre Rio 2016


É festa! Quanta festa ... sediaremos as olimpíadas 2016, nenhuma novidade. Eba! Vamos de festa, que de festa a gente entende ... Agora, orçamento, gastos públicos e cuidado com património a gente deixa com aqueles caras espertos e chatos que não gostam de festa, certo? Ouvi dizer que a idéia agora é enforcar 2015! Ah-ha! Engraçado ... Sintetiza bem nosso espírito. Não sou daqueles que reclama de barriga cheia, clama ai, não estou ironizando o evento por completo. Lula também me convenceu, afinal, ele é "o" cara. Agora, notícia boa mesma é saber que o Woody Allen virá filmar na cidade maravilhosa, notícia mais que confirmada depois do mundo virando os olhos pra cá ... Viu? No final das contas, que coisa boa, é festa! Rio de Janeiro vai ser o "point" do planeta! Não arredo o pé daqui.

Festival do Rio: Sede de Sangue

Me lembro de quando vi "Old Boy" e da minha reação diante de um filme coreano que era simplesmente avassalador. Quem não viu a pérola ainda, corra, não sabe o que está perdendo. A expectativa com o próximo longa de Chan-Wook Park era inevitável, e como todos sabem, a expectativa afeta um bom espectador, e hoje lhes falo como espectador. Bem, nesse caso, Park dá um drible e tanto nas expectativas, seu novo longa é diferente do que alguém poderia esperar, mesmo cercado por todo seu estilo, e isso não é uma má notícia, pelo contrário, em "Sede de Sangue", Chan-Wook Park afirma seu cinema e cumpre a promessa de "Old Boy".

Na trama um padre (Kang-Ho Song) se oferece de cobaia para experimento científico e em uma transfusão de sangue acaba falecendo e voltando a vida logo em seguida. Tido como santo quando retorna a seu país o padre começa a sofrer mudanças significativas, logo descobre que é um vampiro e que precisa se alimentar de sangue para não morrer. Consegue seguir uma rotina pacífica bebendo o sangue dos pacientes em coma do hospital onde trabalha, as coisas começam a tomar outro caminho quando conhece a mulher de um amigo de infância (Ok-Vin Kim) e passa a conviver na família da mesma. Ela se torna o ponto de desequilíbrio de toda a trama e torna tudo mais interessante.
O filme é eletrizante! Cenas de extrema violência, marca do diretor por sua "trilogia da vingança", e com partes de enorme beleza. Mais o tom que predomina no filme é o de ironia. Park brinca com o gênero vampirístico, usa o velho misticismo (ok, eles morrem com o sol e bebem sangue) e muda alguns dogmas (Pera lá, o cara é um padre!), o produto final é fantástico, destaque á parte para o movimento de câmera do diretor, realmente impressionante. Vai por mim, você vai sentir asco, vai vibrar, rir bastante e virar o rosto várias vezes.

Cheio de ironia, vejo "Sede de Sangue" como um alento nos tempos de hoje, em que jovens conhecem a mítica de vampiros através de lixos "teen" como "Crepúsculo" e "Lua Nova". Park mostra o quanto cruel e divertido pode ser esse universo, sem apelar para romances água com açúcar e problemas da juventude.

Nota: 9,0

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Festival do Rio: Abraços Partidos


Pedro Almodóvar está, digamos, mais refinado. Em seu novo longa, "Abraços Partidos", ele capricha em um visual diferenciado, em uma trama que flerta ainda mais com o cinema, coisa que fez em longas anteriores como "Tudo Sobre Minha Mãe".
Penélope Cruz, musa do cineasta, serve de figura para conflito do filme, ela é a aspirante a atriz Lena, amante de um rico empresário se apaixona pelo diretor Mateo Blanco (Lluís Homar), enquanto filmam "Garotas e Malas". Isso em 1992. O tempo passa, é 2008, e no começo do longa encontramos Mateo cego, roteirista e só lhe restam lembranças. O passado começa a ser revirado pelo filho do amante de Lena, Ray X, que vai ao encontro de Mateo.

O drama de Mateo e Lena vai sendo contado em um enorme flashback e de algumas revelações. Almodóvar usa a história ficcional dentro do filme para traçar a trama com a realidade, e também faz uma homenagem ao cinema com a mensagem final do filme. Algumas cenas são dispensáveis, outras de pouco apelo emocional, o drama é insosso, mas a sinceridade que Almodóvar coloca em todas suas histórias e a presença sempre sensacional de Penélope valem o filme.
Quando somos apresentados a um pedaço do que seria "Garotas e Malas", o filme dentro do filme, vemos uma homenagem ao velho estilo de Almodóvar, com a fotografia bem colorida, interpretações e situações ao estilo de "Mulheres á Beira de um Ataque de Nervos". Essa cena em questão pesa contra o longa em si, afinal, aquilo ali é tudo o que o filme não é, simplesmente genial!

Nota: 7,5

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Divulgação de encher os olhos

"Onde Vivem Os Monstros" do diretor Spike Jonze (Quero ser John Malkovich), está previsto para chegar por aqui no começo do ano que vem, mas já foram divulgados o Trailer (encantador), imagens e cartazes. A direção de arte do filme é primorosa e as fantasias, opção do diretor ao invés de usar o habitual CGI, são fantásticas. Por enquanto fiquem com os cartazes dos personagens e o Link do Trailer, Enjoy:


Link do Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=AZlIvjXPav0

Festival do Rio: Distante Nós Vamos



Sam Mendes foi realmente distante para conceber esse "Distante Nós Vamos", o filme está bastante diferente do Sam Mendes de "Beleza Americana" ou de "Apenas Um Sonho", ele deixa o clima pesado e os finais melancólicos pra abraçar uma trama que flerta com o universo Indie, ora no visual, ora na trilha sonora.

No começo somos apresentados, de maneira bem "íntima", ao casal Burt (John Krasinski) e Verona (Maya Rudolph) e descobrimos logo que ela vai ter um bebê. Os dois decidem morar perto dos pais dele, os dela faleceram, como uma base familiar para a criança, quando descobrem que eles vão morar na Europa por dois anos, a vida do casal vira de cabeça pra baixo, não faz mais sentido permanecer ali, como ambos tem empregos não fixos, decidem percorrer o país á procura de amigos e familiares e do lugar perfeito para criarem seu filho.


É quando entra o Road Movie e toda aquela história de descobrir coisas e crescer. No começo o humor é fugaz e negro, simplesmente genial. As situações que o casal passam são realmente extremas, desde uma família degenerada, com uma mãe louca e carente e um pai desligado do mundo, até uma família "paz e amor" que beira o ridículo. Tudo muito bem montado em quadros de lugares. Já a parte final, que se encaminha para o desfecho Melo dramático, perde força, abandona o humor e pega pesado nas esperanças do casal.
É um filme muito bem feito, uma troca de ares para Mendes, mais pelo roteiro de Dave Eggers que carrega o filme pra essa atmosfera a lá "Juno". Uma ótima experiência para um cineasta ainda com poucos filmes e muito potencial na direção, mais fica aquele desejo de um desfecho forte que os outros filmes de Mendes tem. Aqui há espaço para um lar feliz para uma família amorosa no final das contas.
Nota: 8,0

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Pra que tanta filosofia?


Nessa última Bienal adquiri os 16 exemplares (os publicados no Brasil) da série em quadrinhos "Os Invisíveis" de Grant Morrison, publicados em meados da década de 90. O Grant Morrison que processou os criadores de Matrix, 99, por plagiar a idéia das páginas da HQ. As "semelhanças" são muitas, a começar pela tal filosofia de que estamos em um mundo manipulado por um sistema e que devemos nos libertar do mesmo. Bem, minha opinião sobre a série, mesmo que ainda vaga por não ter acesso á obra completa, é de algo muito bem narrado e de uma atmosfera muito interessante, porém (sempre os poréns!), não é exactamente sobre a série de quadrinhos, mas sobre a conclusão que ela me levou (junto a dois outros amigos em um domingo na praia). Essa necessidade de colocar filosofia em tudo é um tanto quanto equivocada. As vezes queremos apenas ler um quadrinho, queremos curtir o momento sem se preocupar em ler com extrema cautela e ter as referências necessárias para absorver certa idéia, as vezes queremos ler um quadrinho de super-herói, ou uma tirinha do Calvin e Haroldo ou do Snoopy. As vezes queremos ver um filme só por assistir um filme, uma comédia qualquer, um bom filme de terror. Claro que eu acho importante absorver um pouco de cultura as vezes, e também não digo que seja impossível se divertir com isso, Watchman é um exemplo disso, mas essa necessidade de buscar a toda hora se cercar por essa filosofia de bolso, de momento, é muito vaga. Não precisamos de filosofia em tudo, de ver filosofia em tudo. Imaginem só o quanto tedioso seria a vida se parássemos para filosofar sobre cada momento, e quanto dolorosa também. Estamos aqui, creio eu, para aprender até certo ponto, o ponto em que não amarguemos nossos dias com pensamentos sobre existência e morte. Um amigo uma vez me disse que ser inteligente demais é ser solitário, que se sentir melhor que os outros ou ser melhor que outros com quem convive o impossibilita de aprender mais. A questão é, pra que tanta filosofia? Não precisamos de toda essa filosofia, 24 horas por dia. Precisamos dela sim, para escrever cartas ou textos, para puxar boas conversas ou para se expressar melhor. Não muito mais que isso.